sexta-feira, 23 de março de 2012

Crítica: A Invenção de Hugo (2011)

"If you've ever wondered where your dreams come from, you look around... this is where they're made."

A paixão de Scorsese pelo Cinema foi mais forte e o realizador fugiu ao seu género habitual para nos trazer, desta vez, um filme fascinante, que irá certamente apaixonar os verdadeiros fãs de cinema e encantar todos os outros. A Invenção de Hugo é a verdadeira homenagem à história da Sétima Arte, feita por quem também faz parte dela. 

Ia lembrar a auto-proclamação de O Artista como homenagem ao cinema (mudo), mas já falei tanto disso que não vale a pena, ainda para mais, estando nós perante um filme que se lhe sobrepõe a léguas. A Invenção de Hugo apresenta-se, muito mais do que como um filme de aventuras, como uma verdadeira prova de amor ao Cinema.

A adaptação cinematográfica do já encantador livro A Invenção de Hugo Cabret conta a história de um órfão que, desde a morte do pai, vive nas paredes de uma estação de comboios em Paris, onde faz a manutenção de todos os relógios. Juntamente com a sua nova amiga Isabelle, Hugo propõe-se a desvendar o mistério por detrás de um autómato que o pai lhe deixou, e encontrar a chave em forma de coração que o completa.

Estamos perante um filme mágico e a magia, presente do início ao fim, faz-nos mergulhar num mundo fantástico mas muito real. No meio de todas as aventuras, a primeira ida ao cinema, a procura da chave em forma de coração, a descoberta dos segredos do autómato, há tanto por revelar e fazem-se incríveis descobertas acerca de um certo mágico. Todos esses segredos estão muito bem guardados e deverão ser descobertos aquando da visualização. Passado, presente e futuro juntam-se em A Invenção de Hugo para nos surpreender.

O elenco está à altura deste grande filme, e merecem destaque as maravilhosas prestações de Asa Butterfield (que já tinha mostrado o seu valor em O Rapaz do Pijama às Riscas) e de Ben Kingsley. Também o polémico Sacha Baron Cohen incarna uma personagem hilariante que nos proporcionará muitas gargalhadas.

Martin Scorsese, uma vez mais, não descurou nem por um segundo a componente técnica que é magistral, e pela qual ganhou cinco Oscars (escapou-lhe injustamente o de Melhor Realizador), e quis ir mais além arriscando-se pela primeira vez num filme em 3D. A sequência inicial, onde a câmara nos leva a percorrer os caminhos de Hugo por entre as paredes da estação de comboios, é fascinante e abre-nos o apetite para o que aí vem. A direcção de fotografia fez um trabalho fantástico, e mesmo o 3D (do qual não sou fã) proporcionou-me provavelmente o primeiro filme em em três dimensões que me deu verdadeiro gozo ver.

A preservação da herança cinematográfica está em cima da mesa em A Invenção de Hugo e, mais do que um alerta para todos nós, o filme quer fazer-nos lembrar e viajar (de comboio, porque não?) até aos primórdios da Sétima Arte. Com Hugo, vamos sonhar.
*9/10*

3 comentários:

Sam disse...

Aproveito o teu óptimo texto — escrito muito ou pouco tempo depois da sua estreia, importa é que tenhas dado a conhecer a tua opinião — para reafirmar a minha incondicional e recém-adquirida paixão por HUGO (da qual já tens conhecimento).

Gostei particularmente da tua referência ao tema da preservação cinematográfica, que aqui é abordado de uma forma — como quase todo o filme — mágica. :)

Cumps cinéfilos.

Inês Moreira Santos disse...

Obrigada, Sam. E muito mais gostaria de ter referido, mas não me podia dar ao luxo de contar a "melhor parte"... :)

Cumprimentos cinéfilos,

Inês

O Narrador Subjectivo disse...

Também não me importaria nada de ter visto o Scorsese ganhar o Óscar de Melhor Realizador em vez de Hazanavicius...