quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Crítica: Os Miseráveis / Les Misérables (2012)

 "I had a dream my life would be so different from this hell I'm living!" 
Fantine
*6/10*

Muitas adaptações depois, foi Tom Hooper quem decidiu levar Os Miseráveis, de Victor Hugo, uma vez mais, para a grande tela. Depois de O Discurso do Rei lhe ter valido o Oscar de Melhor Realizador, parece que não ponderou que este musical poderia ser “areia demais para o seu camião”.

Duas horas e meia de canções depois, onde as poucas falas não cantadas quase se contam pelos dedos, o desapontamento inunda a sala de cinema. Uma longa-metragem com a dimensão de Os Miseráveis merecia um tratamento à altura, ainda mais quando estamos perante um elenco de peso, onde os grandes momentos são-nos proporcionados, acima de tudo, por Anne Hathaway.

Com a França do século XIX como pano de fundo, a longa-metragem musical conta uma história de sonhos desfeitos, paixão, sacrifício e redenção, num testemunho intemporal da sobrevivência do espírito humano. Jean Valjean (Hugh Jackman) é um ex-prisioneiro perseguido durante décadas pelo cruel polícia Javert (Russell Crowe), depois de ter desrespeitado a sua liberdade condicional. Quando Valjean aceita cuidar de Cosette (Isabelle Allen/Amanda Seyfried), a filha da sua operária Fantine (Anne Hathaway), as suas vidas mudam para sempre.
Uma obra tantas vezes trabalhada é um desafio e tanto para qualquer realizador, mesmo para o oscarizado Hooper. O argumento não é extraordinário, mas há que fazer por torná-lo interessante e cativante para o espectador. Errada foi a opção de quase todas as falas serem cantadas. O que noutros casos poderia resultar, em Os Miseráveis tanta canção apenas se traduz numa espécie de cansaço e distracção na plateia. Mais diálogos e menos “cantigas” seria uma opção mais viável e certeira.

Os verdadeiros grandes momentos do filme são-nos oferecidos por Anne Hathaway que prova a talentosa actriz (e cantora) que ainda não havia demonstrado ser. Em 2012, O Cavaleiro das Trevas Renasce já nos revelou alguma da sua versatilidade enquanto Catwoman, mas, aqui, Hathaway prova uma sensibilidade que emociona qualquer um. Em todas as cenas onde entra, a actriz enche o ecrã com a sua forte e corajosa Fantine, e atinge o ponto alto de todo Os Miseráveis quando interpreta o tema I Dreamed a Dream de corpo e alma.
O restante elenco não brilha especialmente. Hugh Jackman, inicialmente irreconhecível, encarna de forma competente Jean Valjean, Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen foram óptimas escolhas para o casal mais divertido deste musical tão dramático, e oferecem-nos momentos leves e de algumas gargalhadas, tal como já nos têm acostumado. Amanda Seyfried e Eddie Redmayne, o par romântico da longa-metragem, não se destacam especialmente, mas valem-lhes as vozes agradáveis que possuem. Já Samantha Barks proporciona-nos bons momentos, assim como os estreantes Daniel Huttlestone e Isabelle Allen que conseguem enternecer e cativar a atenção da plateia. Por seu lado, Russell Crowe, apesar do excelente actor que é, revelou-se um erro de casting, tanto pelo péssimo cantor que se revelou, pelo menos para filmes musicais, a que acresce o tom forçado que coloca na sua personagem.

Tecnicamente não há muito a destacar, para lá de uma boa fotografia, a cargo de Danny Cohen. Hooper parece ter ambicionado tornar Os Miseráveis num grandioso espectáculo e descurou tantos aspectos verdadeiramente importantes para o conseguir. Argumentativamente, poucas histórias estão bem desenvolvidas, carecem de explicações, de profundidade, de envolvimento.

Os Miseráveis de Tom Hooper é fraco, ficando muito aquém do esperado. Há momentos intensos, mas quase todos nos são presenteados pela estrela que dá algum brilho à longa-metragem: a Fantine de Anne Hathaway.

4 comentários:

Sam disse...

Isto é que foi dar pelo tempo a (não) passar... :)

Desde o início deste OS MISERÁVEIS que percebi o quanto não ia apreciar o filme. Musicais nunca fizeram parte dos meus principais gostos em Cinema, e Tom Hooper não me alterará essa postura perante o género.

Cumps cinéfilos :*

Inês Moreira Santos disse...

Foi complicado, foi. :)
Obrigada pelo comentário, Sam.

Cumprimentos cinéfilos :*

Tarzanlobo disse...

Achei o filme excelente. Hooper soube conduzir muito bem...

Abraços...

Anónimo disse...

Não considero que Tom Hooper tenha feito tão mau filme. Merece mais que um 6. A caracterização e o desempenho dos actores são algo a destacar assim como a peça de Victor Hugo ser um guião que proporciona momentos dignos de bom musical na tela. Menos mal dizer e um pouco mais de sentido emotivo ;)