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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

LEFFEST'13: Crítica: Harmony Lessons (2013)

*6/10*

Deveras violento e visceral - um carneiro é esfolado à nossa frente logo na primeira cena - à sua medida, Harmony Lessons traz-nos um retrato darwinista do que o bullying pode fazer à mente de uma criança. 

A longa-metragem de estreia do realizador cazaque Emir Baigazin, de 29 anos, centra-se no quotidiano de Aslan, de 13 anos, solitário, que vive com a avó nos arredores de uma pequena localidade do país. Humilhado durante um exame médico escolar, o jovem é depois ostracizado e vítima de bullying. Depressa se começa a manifestar em Aslan uma desordem de personalidade, desenvolvendo uma obsessão pela limpeza e pela perfeição, procurando controlar tudo o que o rodeia. Com o passar do tempo, ele decide elaborar um plano de vingança contra os seus agressores, entrando numa espiral de violência que vai pôr a sociedade em xeque. Harmony Lessons foi premiado no Festival de Berlim.

Harmony Lessons traz uma abordagem original e corajosa da violência, seja no bullying, na tortura ou mesmo na morte dos animais. Em jogo está, acima de tudo, a lei da sobrevivência da espécies, numa espécie de selecção natural. Certo é que, aqui, ninguém é inocente, nem a maior das vítimas.

Se, por um lado, somos fortemente incomodados pelas atitudes dos alunos mais fortes para com os mais fracos e ficamos do lado dos segundos, por outro lado não compreendemos o fascínio de Aslan por baratas e lagartos e, mais ainda, as práticas - um tanto ou quanto mórbidas - da criança para com esses seres-vivos. Testemunhamos o transtorno obsessivo-compulsivo do rapaz - os seus banhos constantes -, ao mesmo tempo que a sua obsessão por vingança aumenta, até alcançar níveis inesperados em que nem a amizade prevalece, entre sonhos, realidade e alucinações.


Harmony Lessons traz um retrato de uma adolescência cruel e violenta, e de uma sociedade que lhe segue os passos. Contudo, é um filme de momentos, que por vezes perde fôlego divagando para histórias secundárias que não se desenvolvem, ou com escolhas de montagem menos conseguidas. Tecnicamente, a fotografia é excelente e os planos são geometricamente bem construídos - feitos quase por medida.

Harmony Lessons é um trabalho interessante, mas a concretização poderia ser melhor. Por seu lado, Emir Baigazin estreia-se em grande forma, fazendo adivinhar uma promissora carreira na realização.

No Lisbon & Estoril Film Festival, a longa-metragem de Baigazin é uma das obras em Competição.

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