quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Crítica: Filomena / Philomena (2013)

*7.5/10*

Um elogio a uma mulher e uma crítica acérrima à religião, assim chega Filomena, de mansinho, ingénua, mas simplesmente surpreendente, como a protagonista. Nomeado para quatro Oscars da Academia, o filme de Stephen Frears (A Rainha, 2006) tem por base a história verídica de Philomena Lee e balança entre o drama e os sorrisos que o típico humor britânico faz surgir.

Filomena faz-nos recuar até à década de 50, a uma Irlanda profundamente católica. Philomena (Judi Dench) engravida ainda adolescente e, ao ser rejeitada pela família, entra para o convento de Roscrea, onde é forçada a entregar o filho para adopção. 50 anos depois, Philomena continua sem se conformar com os acontecimentos e faz inúmeros esforços para encontrar o filho, sem resultados. Até que conhece o jornalista Martin Sixsmith (Steve Coogan).

O argumento não é original, mas é único na história que lhe deu origem. Baseado na obra The Lost Child of Philomena Lee, escrita pelo verdadeiro Martin Sixsmith, o filme – tal como o livro – é uma denúncia, uma chamada de atenção, uma forte crítica social. Os acontecimentos que estão na base de Filomena são tudo menos fáceis de digerir, por muitas que sejam as críticas à religião que já surgiram no Cinema. Stephen Frears espelha neste trabalho o drama de muitas irlandesas, que, ainda hoje, procuram os seus filhos.

Apesar da temática pesada, o humor surge subtilmente personificado em Philomena e nos comentários mais inesperados de Martin. As conversas entre ambos são encantadoras. Aliada a essa empatia, toda a história está construída para nos aproximar da protagonista e do jornalista, partilhando a dor desta mãe e a indignação do seu companheiro de viagem na procura do seu filho – a certo momento, também nós faremos parte desta jornada.

Ao desencontro entre mãe e filho, está directamente relacionada a fé e a descrença dos protagonistas. Philomena e Martin têm duas visões bastante diferentes do mundo e da religião: ele é agnóstico, pouco interessado em histórias de “interesse humano”, arrogante e sarcástico. Ela é extremamente religiosa, apesar de tudo o que já passou e que a poderia fazer perder a fé, ingénua e preocupada com o que para si são as questões maiores (será que o filho é obeso? Tudo por causa das enormes doses que servem nos EUA). É nestas duas personagens, contudo, que acompanharemos uma forte mudança de perspectivas – quer de personalidade e atitude, quer nas suas crenças. É assim que Philomena e Martin Sixsmith se tornam marcantes para o espectador.

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