quarta-feira, 14 de maio de 2014

Já Vi(vi) este Filme, por Diogo Simão

Já Vi(vi) este Filme

Conversa típica de gajos nº1: 
- Perdias 3 dedos de uma mão para passar uma noite com a Irina do Ronaldo
- Perdia-os antes ou depois de estar com ela?

Conversa típica de gajos nº2:
- Halle Berry ou Kim Kardashian?
- As duas! E um Big Mac!


E no entanto isto não é mais do que um exercício de imaginação, como que para demonstrar ao pessoal o quão desesperado o teu nível de testosterona te torna. É uma falta de classe excepcional, mas são tradições estabelecidas há milénios que, por muito que as eras passem, irão persistir.

Óbvio que nem todos nascemos com o encanto de um Robert Downey Jr. ou o ar de infinita imperturbabilidade de um Alex Turner: mas existe algo nas «personas» destas estrelas que sempre me suscitou o interesse. Como se o carisma fosse uma disciplina que pode (e deve!) ser aprendida.

Um leve movimento de cabeça enquanto entreabres o sorriso, uma rápida comichão no pescoço, um piscar de olhos demorado… Tudo sinais que passam uma mensagem: o engate perfeito. Deixa apenas de ser imaginação para passar a ser verdade.

E tudo corre bem… Até te aperceberes que à tua frente está uma «jogadora» tão hábil quanto tu. Até te aperceberes que cada palavra, silêncio e movimento está sobre um escrutínio impiedoso.

E nada no mundo consegue ser mais excitante.

Em Casino Royale, de Martin Campbell, existe uma cena que reflecte precisamente esse sentimento. James Bond, interpretado por Daniel Craig, encontra-se num comboio à espera do apoio para a missão que tem em mãos. Entra Vesper Lynd, interpretada por Eva Green.

Através de bem colocadas questões, elogios e análises sub-repticiamente feitas, os protagonistas reconhecem-se pelo que são: faces opostas da mesma moeda. O erotismo aqui é puramente intelectual, embora a atracção física seja inegável. 

Se conheces o estilo e historial de Bond, estás à espera de um determinado padrão nos acontecimentos amorosos. No entanto, como se de uma valsa se tratasse, acabas num sítio inesperado: e este é só um dos muitos motivos pelos quais Casino Royale é, na minha opinião, o melhor filme sobre o agente britânico.

Porque não é só uma história de espiões, glamour, cobiça e perda: é também a história de como uma mulher transformou um rapazinho num homem.

E esse, é verdadeiramente um filme que eu já vi(vi).

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Obrigada pela tua participação, Diogo!