sexta-feira, 25 de julho de 2014

Já Vi(vi) este Filme, por FilmPuff

Já Vi(vi) este Filme
por FilmPuff, do Not a film critic


Se ele há convites complicados de cumprir, este foi o mais complicado de todos. Ora então, viver um filme não é? Quem conhece o meu canto saberá certamente que os géneros de terror, thriller e ficção científica oriundos do este/sudeste asiático são os que mais me agradam. Tentei pois encontrar aí um ponto de encontro entre as expectativas (creio eu), da Inês que me fez tão simpático convite e o meu de, corresponder, sem fugir ao que mais me agrada. Falhei, pois, quase miseravelmente. Sei lá? A meios que não possuo nenhuma experiência em que me revejo acossada e em que grito feita histérica enquanto um qualquer monstro nas trevas me persegue. Não. Felizmente. Nem tenho pretensões de tal. Gosto de terror mas não sejam tão extremistas… Sou assim uma aborrecida e sensaborona funcionária pública (não sou mas finjam comigo), que entende como o mais próximo de excitante, a altura em que o ponteiro das horas atinge o número 6, a uma sexta-feira. E da escolha, feita parva, fui fugindo. Sou uma criatura de hábitos e, eis que a uma terça-feira decidi rever aquela comédia romântica que todos têm dentro de si mas são incapazes de admitir. Uma das “minhas” é My Sassy Girl. Julguem-me! E nessa terça-feira em que a revi, fiz um facepalm mental. Como é que esta criaturinha parva se podia ter esquecido daquela comédia romântica que até podia ser da Disney, se tirarmos a parte do alcoolismo e do vómito (mini-spoiler). E agora que já admiti que nas profundezas do meu ser se encontra uma romântica incurável deixem-me contar-vos onde é que My Sassy Girl é tão similar a eventos da minha vida que quase a podia ter copiado, à excepção, peculiar talvez, que o filme antecipou e prevê eventos da minha vida que se viriam a concretizar (yep, sou assim tão egocêntrica).


My Sassy Girl conta a história de um rapaz que salva uma rapariga obviamente alcoolizada de cair na linha do metropolitano. Quer o destino que eles acabem por viver uma improvável história de amor, de tantas vezes se cruzarem e de ele, com uma paciência apenas comparável à de um santo e, sim, arraçado de capacho, a querer salvar dela própria a despeito de um feitio irascível. My Sassy Girl é uma ode ao amor fora de tempo. A “rapariga” pois que nunca ouvimos o nome dela tenta sabotar de todas as formas e feitios o início de uma nova ligação amorosa. Identifico-me com ela, mas creio muitos outros, de qualquer dos sexos poderá ali encontrar um elo de ligação. O facto de ela não ter um nome é uma pista, porque no fundo “ela” sou eu, tu, o vizinho do lado e somos todos nós. Ela sente-se em ruínas, uma sombra do que uma vez foi por causa do passado e é ele que guia as suas acções aparentemente aleatórias. Por isso, por um lado deseja destruir qualquer hipótese de uma nova relação e, por outro, tenta recriar a anterior que tanta felicidade e sofrimento lhe provocaram. O desejo de reviver tais momentos agridoces, não são mais do que artifícios que não constituem qualquer aprendizagem para o momento presente. Talvez se, se reviver vezes sem conta os momentos especiais, consigamos mudar o futuro, talvez eles se tornem menos penosos… Haverá pois exercício mais masoquista? A rapariga exige e comanda atenção até ao cansaço da outra parte. Um comportamento motivado apenas e só para um final esperado, para que depois ela possa dizer a si própria: “eu bem te disse”. Como se fosse veneno e a única pessoa no mundo em sofrimento. Um mártir. Apenas e só na cabeça dela, egoísta, que enquanto não desligar da dor, não irá compreender o impacto que tem nos outros. O desgosto constitui um dos momentos mais solitários na vida de uma pessoa pois esta pede ajuda em tudo quanto faz, suplica conforto emocional e ao mesmo tempo, magoada como está, não é capaz de sentir empatia por quem está a desempenhar esse papel e magoa tão ou mais do que aquilo porque passou. E para uma relação sempre são precisos dois! My Sassy Girl é pois sobre o caos amoroso na cabeça de uma pessoa e o papel do tempo na sua resolução. Os outros, lamento, mas não pertencem à equação. São os denominados danos colaterais.


My Sassy Girl não será a melhor comédia romântica alguma vez realizada mas vale certamente pelo desempenho da rapariga (Ji-hyun Jun) e por uma história próxima do coração dos espectadores, independentemente da fase em que se encontram: 1) na expectativa de um romance maior que a própria vida, 2) que vêem com nostalgia um conto que podia ser o seu e 3) que se encontram a atravessar esse mesmo processo. Se este último for o caso, não se esqueçam de ter uns lenços Renova ao lado. E porque não quero que abandonem este texto, se é que aguentaram até ao fim, a necessitar de um antidepressivo, faço notar que My Sassy Girl termina com uma mensagem de esperança. 

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Obrigada pela tua participação, FilmPuff!