quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Crítica: Whiplash - Nos Limites (2014)

"There are no two words in the English language more harmful than good job."
Terence Fletcher
*8.5/10*

O batimento cardíaco aumenta ao ritmo do da bateria e o corpo acompanha a sonoridade jazz. No fim, faltar-nos-ão as forças ao ver tanto esforço, raiva e vontade de ser o melhor, mas a motivação não terá limites. Damien Chazelle traz-nos muita teimosia e suor, acompanhados à bateria, em Whiplash - Nos Limites, a sua segunda longa-metragem. Para além de um exercício de estilo cheio de ritmo, somos conduzidos nesta aventura por dois protagonistas fabulosos e de personalidade singular: Andrew Neimann e Terence Fletcher - tão diferentes, mas, afinal, tão iguais.

Sob a direcção do exigente e impiedoso professor Terence Fletcher (J.K. Simmons), Andrew Neiman (Miles Teller), um jovem e talentoso baterista, procura a perfeição a qualquer custo, mesmo que isso signifique perder a sua humanidade.

Com Andrew, suamos, sangramos e choramos de raiva, e, no final, ficamos mais exaustos do que o nosso herói da bateria. O argumento, simples e directo, dá o mote para todo o espectáculo sonoro e visual que se segue na luta pela perfeição. Tendo por base a sua própria experiência (esperemos que menos traumatizante), Damien Chazelle escreveu e realizou Whiplash - depois da curta-metragem homónima - e contagia facilmente a plateia com uma história que mostra o quanto é preciso batalhar para ser-se músico, centrada em duas personagens que dominam o filme.


A obsessão pela perfeição é seguida também nas interpretações de Miles Teller e J.K. Simmons em duas das melhores performances do ano. Teller mostra aqui verdadeiramente o que vale, da pura inocência de principiante à vontade crescente em ser o melhor, com o ego a aumentar e sem desistir perante as mais perturbadoras dificuldades. Como Andrew, Teller dá tudo o que tem e entrega-se de corpo e alma. Ele sua, sangra e chora, capaz de tudo para ser o melhor do mundo, mesmo nas situações mais adversas, numa vontade incontrolável de querer ser quase um super-humano. Ao seu lado, Simmons funde-se com Fletcher, o aterrador - quase sádico - professor que assombra a banda que dirige. Andrew é contudo capaz de lhe fazer frente e olhá-lo nos olhos quando todos os outros o evitam. É de um adversário à altura que Fletcher precisa, talvez, e será que Andrew é capaz do feito? Fletcher é intransigente, um bully, capaz dos actos e das palavras mais inesperadas, que convive no entanto com um estranho sonho de encontrar o músico perfeito entre os seus alunos - uma espécie de máquina incapaz de errar. Ambos ambicionam a perfeição e parece ser isso o que tão estranhamente os une e os faz desafiarem-se mutuamente.


O argumento de Whiplash é complementado por toda a componente técnica que com ele se funde em uníssono. A realização de Damien Chazelle é inteligente e muito dinâmica, acompanhada e bem por uma montagem ritmada que parece dançar ao som da fundamental banda sonora - qual protagonista. A fotografia proporciona excelentes momentos em palco (e fora dele) com a luz a jogar a favor do jazz que paira no ar. O ambiente é frenético, cheio de fluidos, planos incómodos e detalhes arrepiantes que a câmara de Chazelle capta como ninguém. Poucas vezes, num filme sobre música, se consegue uma harmonia tão inquietante e completa.

Damien Chazelle traz-nos uma experiência visual e sensorial como poucas. E se Andrew não chegar a ser o melhor do mundo, pelo menos Whiplash - Nos Limites já é, com certeza, um dos melhores do ano.

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