terça-feira, 8 de setembro de 2015

MOTELx'15: Entrevistas - Simão Cayatte (Miami)

MOTELx começou hoje, 8 de Setembro, e para o Prémio MOV MOTELx – Melhor Curta de Terror Portuguesa 2015, o único galardão do festival, estão a concorrer 10 curtas-metragens nacionais: A Tua Plateia, de Óscar FariaAndlit, de João Teixeira FigueiraErmida, de Vasco EstevesGasolina, de João TeixeiraInsónia, de Bernardo LimaMiami, de Simão Cayatte, Efeito Isaías, de Ramón de los SantosO Tesouro, de Paulo AraújoThe Bad Girl, de Ricardo Machado, The Last Nazi Hunter 2, de Carlos Silva.


Simão Cayatte e a sua curta-metragem Miami estão hoje em destaque no Hoje Vi(vi) um Filme.

Miami introduz-nos num tipo de terror diferente, onde é a obsessão que toma lugar. O que pode o público esperar desta curta-metragem?
Simão Cayatte: É verdade. Aqui a ameaça não vem do exterior mas sim da cabeça da protagonista. Sempre gostei do terror psicológico no cinema. A ideia de que nós criamos o nosso próprio terror assusta-me ainda mais do que a ideia de uma ameaça vinda de fora. Li há um tempo um artigo (creio que relacionado com o caso de Anders Breivik) em que constava uma definição muito interessante do que é a loucura. Um louco, de acordo com esta proposta, é alguém que ao levar uma ideia até ao fim, fá-lo numa sucessão totalmente racional de actos lógicos - o único problema é a premissa. Depois de fazer este filme percebi que o mesmo se passava com Raquel (a protagonista) pois a missão que leva até fim é executada de forma perfeitamente calma e racional. Simplesmente a premissa (ser famosa a todo o custo) é completamente desvairada. Nesse sentido o filme vive de facto de um terror diferente. O terror da loucura.

O sonho da fama e os problemas da adolescência parecem estar no centro do filme. Como surgiu a ideia de filmar Miami?
S.C.: O filme é inspirado num conto de Teolinda Gersão (Big Brother Isn’t Watching You) que por sua vez se baseia em factos reais. Talvez uma das principais diferenças entre o filme e o conto é que no livro não existe uma só protagonista, mas sim um grupo de três amigas. Achei que em cinema era mais interessante focar-me numa só personagem de forma a estudá-la o melhor possível no pouco tempo que tinha. Também acho mais forte um close-up de uma só pessoa que de três.
A Raquel é uma adolescente de quinze anos que quer desesperadamente ser alguém. O problema é que não tem muito talento, e como tantas raparigas (e rapazes) hoje em dia, é a vítima perfeita deste presente envenenado: a ideia de que a fama é sinónimo da felicidade. Para ela aparecer na televisão, o número de likes na página de instagram ou ser fotografada já não é suficiente. Precisa de uma forma mais rápida e prática de chegar à ribalta. É isso o que vemos no filme. Por muito satírica ou irrealista que parece a ideia, ela é de facto real. Infelizmente o sonho de fama tornou-se uma religião.

Como correu o processo de rodagem desta curta-metragem?
S.C.: Correu bem. Infelizmente não tivemos muitos meios para filmar a curta, mas graças ao investimento e à boa vontade da Ukbar Filmes e de uma equipa incrível que se dedicou completamente ao projecto foi possível realizá-lo. Acima de tudo foi muito gratificante trabalhar com a Alba Baptista, uma jovem actriz que descobri através de um casting feito a mais de 80 actrizes. Ela acreditou no projecto, disponibilizou-se a ensaiar dezenas de vezes, teve muita paciência para me aturar, e no final acredito que faz o filme.

Qual é para o Simão a importância de estar entre os seleccionados de 2015 para o Prémio MOV MOTELx? E o que o levou a submeter o seu filme?
S.C.: Fico muito contente de ter sido selecionado para o festival. Acima de tudo porque sinto que ao ser selecionado, o festival abre as portas à definição de “terror” dando espaço a um filme que, para além da componente de terror, é também um filme de personagem e uma crítica social. O terror é um género incrível. Quando era criança dizia às pessoas que quando fosse adulto iria fazer filmes de terror. Se calhar acabei a fazer um terror diferente. Mas é bom poder fazer parte do festival.

Qual o papel dos festivais de cinema no campo da divulgação do cinema nacional? Que mais pensa que pode ser feito neste campo?
S.C.: Fundamental. Estive agora com o Miami na Dinamarca no festival OFF (Odense) onde vi filmes inacreditáveis. Ao falar com realizadores de vários países, reparei que os festivais portugueses estavam sempre a ser referidos nas conversas. Da animação, à ficção, ao documentário, notei que as pessoas tinham interesse em enviar os seus filmes. Isto é saudável e significa que Portugal tem um circuito de festivais de relevância nacional e internacional. Em termos do que pode ser feito neste campo, acho que uma maior integração e união entre os vários festivais a favor da luta por melhores condições para os próprios festivais, para o artista (seja ele o técnico, ou o actor) e o financiamento do cinema poderá ajudar a que mais e melhores filmes sejam produzidos anualmente.


Sinopse
O sonho de fama de uma adolescente transforma-se numa perigosa obsessão.

1 comentário:

MQ disse...

nesta curta também outras adolescentes deram o seu melhor e todavia são ignoradas neste comentário do realizador