quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Crítica: Brooklyn (2015)

"Home is home."
Tony
*8.5/10*

Aparenta ser o grande filme romântico da temporada mas Brooklyn vai muito além disso. Aliás, o romance existe, sim, mas em jogo está algo maior: o sentimento de pertença. Afinal, onde está o nosso verdadeiro Lar?

Brooklyn conta-nos a história de Eilis Lacey (Saoirse Ronan), uma jovem imigrante irlandesa atraída pela promessa do sonho americano, que troca a Irlanda e o conforto da casa da mãe, pelos bairros de Brooklyn nos anos 50. As iniciais saudades do seu país diminuem com o surgimento de um romance, que impele Eilis para o encanto inebriante do amor. Mas rapidamente esta nova vivacidade é interrompida pelo seu passado, e Eilis tem de escolher entre dois países e a vida que cada um lhe oferece.


O argumento é simples, doce, sensível, tal como a sua protagonista. Brooklyn é um drama romântico, mas lança questões muito mais sérias do que triângulos amorosos. Uma irlandesa de origens humildes vai para Brooklyn em busca de um futuro. Com família e amigos na Irlanda, à necessidade de começar do zero juntam-se a solidão e as saudades de casa, até se começar a reconstruir uma vida - trabalho, Universidade, amigos e amor.

Um retrato de uma época, de uma comunidade que emigrou em busca do que o seu país não lhes oferecia: futuro. E, longe da imigração que fugia da Europa no pós Primeira Guerra, que tão bem retratou no cinema James Gray com A Emigrante, sempre com uma aura pessimista e triste a pairar, o realizador John Crowley vai até aos anos 50 e, apesar da dura jornada dos irlandeses, as cores e o ambiente são vivazes, cheios de sorrisos, de música e alegria, e, mesmo nos momentos dramáticos e introspectivos, a cor predomina, como uma esperança que não se desvanece. Brooklyn tenta levar a sua história sempre com algum humor, tal como deveríamos levar a vida.


Para além da temática principal, em redor das escolhas e dilemas de Eilis - comuns a todo o ser humano que muitas vezes tem dúvidas sobre qual o caminho certo a tomar -, encontra-se igualmente uma crítica ao conservadorismo da Irlanda, onde os interesses e o conveniente parecem muitas vezes sobrepor-se à satisfação pessoal. Muito forte neste filme é a posição da mulher, já que, para se adaptar à vida em Brooklyn, Eilis se torna uma jovem emancipada - é uma das poucas mulheres a estudar - e moderna.

Saoirse Ronan é a nossa guia, leva-nos da Irlanda a Nova Iorque e vice-versa, na atribulada viagem pelo Oceano Atlântico. Uma Eilis realista, simples, cheia de expectativas, objectivos e muitas saudades da mãe e irmã. Novos horizontes fazem crescer igualmente as fronteiras da mente e, em Brooklyn, a transformação na protagonista vê-se através da sua personalidade, mais forte e carismática, mas igualmente graças ao bom trabalho de guarda-roupa, muito fiel aos anos 50 e às diferentes realidades - também a direcção artística é muito competente. A actriz tem uma interpretação à altura de Eilis que, na sua simplicidade e contenção, consegue transpor o ecrã e conquistar a plateia.


Belo e singelo, Brooklyn partilha as qualidades com a sua protagonista. Da inocência à emancipação, entre a Irlanda e os Estados Unidos, seguimos com paixão a realidade, por vezes dura, por vezes feliz, de Eilis e do sonho americano de que foi à procura.

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