quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Crítica: Carol (2015)

*8/10*


Duas mulheres de fibra, numa sociedade cruel, constroem o delicado e amargo Carol, com Todd Haynes ao comando. A câmara, o ambiente e as protagonistas unem-se numa viagem de emoções, onde os olhares sussurram juras de amor.

Na Nova Iorque dos anos 50, Therese Belivet (Rooney Mara) trabalha num armazém de Manhattan e sonha com uma vida como fotógrafa, quando conhece Carol Aird (Cate Blanchett), uma mulher sedutora presa a um casamento fracassado. Uma ligação imediata nasce entre as duas mulheres e a inocência do primeiro encontro dá lugar a uma relação mais profunda. Quando o envolvimento de Carol com Therese é descoberto, o marido de Carol retalia contestando a sua competência como mãe. Enquanto Carol e Therese se refugiam na estrada, deixando as suas respectivas vidas para trás, um confronto emerge que irá testar os pressupostos e compromissos mútuos.


Em Carol, a narrativa simples é ofuscada pelo ambiente e pelas cores que remetem para a época, onde guarda-roupa e direcção artística fazem um trabalho exímio. O romance cresce através de olhares, sorrisos e poucas palavras. São mais os corpos e os gestos a contar a história. O ritmo lento, intensificado por planos longos de rostos e trocas de olhar fazem os sentimentos tomar uma dimensão muito maior do que se possa esperar.

Todd Haynes aposta em planos fortes e intensos onde predominam as emoções. Muitas vezes, observamos as personagens ao longe, através das divisões da casa ou entre outras pessoas que passam. Os vidros são uma constante, com a câmara a vincar ainda mais as barreiras e preconceitos que rodeiam e separam as protagonistas. Ainda o enfoque e repetição do toque das mãos nos ombros das personagens são uma tímida expressão de sentimentos fortes que estão bem guardados do conservadorismo da época e vão muito além do simples carinho.


É dos pormenores que Carol vive, com uma banda sonora a lembrar a época dos acontecimentos a acompanhar. E, nesta história de amor, são as actrizes que a fazem brilhar, com a sua contenção e coragem. Rooney Mara é a jovem Therese, na inocência da descoberta da paixão e da sexualidade, é uma mulher tímida, mas segura e com muito menos tabus que a sociedade que a rodeia. Deixa-se conquistar e sabe bem o que quer. A actriz continua a provar o seu grande talento e não tem medo de desafios: supera sempre as expectativas. Ao seu lado, Cate Blanchett é a mulher madura, Carol, sensual, charmosa, que está presa a um casamento que acabou há muito e que a faz reprimir sentimentos. Numa interpretação comedida como a sua personagem, Blanchett transborda elegância e entrega-se sem pudor às cenas mais íntimas. Dois desempenhos memoráveis do amor entre duas mulheres fora do seu tempo.

Carol podia chamar-se Therese. O nascimento da relação entre as duas é contado através da lente de Todd Haynes, com sensibilidade, discrição e muito amor.

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