sábado, 11 de fevereiro de 2017

Crítica: Manchester by the Sea (2016)

"My heart was broken, but I know yours was broken too."
Randi Chandler

*7.5/10*

Quando deixamos de pertencer à terra onde nascemos ou crescemos, nem os laços familiares podem, por vezes, curar a ferida. Manchester by the Sea faz-nos seguir a trágica família Chandler, e a sua realidade dura e triste. Kenneth Lonergan escreve e filma um drama familiar bem construído, focado essencialmente em dois elementos da mesma família: tio e sobrinho - os dois que restam. 

Quando Joe (Kyle Chandler) morre subitamente, o seu irmão, Lee (Casey Affleck), passa a ter a guarda legal do sobrinho Patrick (Lucas Hedges), um adolescente de 16 anos. Este facto obriga-o a lidar com o trágico passado que o separou da mulher, Randi (Michelle  Williams), e da comunidade onde nasceu e foi criado.

Presente e passado vão-se alternando à medida que conhecemos Lee e a história da sua família. O companheirismo com o irmão, os problemas conjugais de ambos, os dias felizes e aqueles que arruinaram tudo. Certo é que por muito dramático que seja, Manchester by the Sea não é um filme previsível. Lonergan consegue desconstruir a história ao pormenor, encaixando as revelações nos momentos certos e atraindo, cada vez mais, a atenção do seu público.


Lee é um homem solitário que vive num pequeno quarto em Boston onde é uma espécie de zelador de diversos prédios - um faz-tudo de poucas falas ou sorrisos. O seu emprego mal pago é uma espécie de hobby que o ajuda a passar os dias. A morte inesperada do irmão traz uma reviravolta à sua vida. Um regresso ao doloroso passado. Casey Affleck é o motor da narrativa, seguimo-lo de Boston a Machester-by-the-sea, entre o presente e passado, num conflito interior constante. Um homem triste, deprimido, com uma aura cheia de mágoa e culpa. O actor transparece todas estes sentimentos e emoções sem esforço e faz-nos nutrir facilmente uma simpatia tímida pela sua personagem reservada.

A solidão do tio contrasta com a rebeldia do sobrinho, no esplendor da adolescência, mas ambos estão unidos pelo sangue, dor e recordações. Conflitos e egoísmo, dão lugar à compreensão. Mas os reencontros, as hostilidades, o desconforto, os vícios do passado, os traumas e os fantasmas regressam e Lee vê-se a afundar como acontecera muitos anos antes.


As cores frias perduram, junto ao mar já de si azul (blue), ou em Boston gelada, onde o pacato Lee vive. O ambiente de Manchester by the Sea é também pouco caloroso, às vezes desesperante, com a banda sonora a acompanhar o mood.

Realista e amargo, o mais recente filme de Kenneth Lonergan não ficará na memória, mas vale uma sentida visualização, onde o Lee de Casey Affleck vai merecer toda a nossa compaixão e admiração. Para muitos, o regresso às origens pode ser um pesadelo.

1 comentário:

Nuno C. Soares disse...

Para mim este filme poderia estar dividido em duas partes. Tem um inicio muito soturno, lento e exigente para o espetador, uma segunda parte mais entusiasmante, com um drama crescente. Na minha opinião o que torna o filme mais interessante é a relação tio-sobrinho e a representação de Affleck.