terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Crítica: Lady Bird (2017)

"I want you to be the very best version of yourself that you can be." 
Marion McPherson

*7/10*

Lady Bird é símbolo de amadurecimento e de amor, acima de tudo. Greta Gerwig estreia-se na realização com uma longa-metragem que se despede da adolescência para entrar na idade adulta, com os receios e dilemas que essa transição acarreta. Ao mesmo tempo, o amor à cidade de Sacramento, Califórnia, e a tudo e todos os que a ligam à protagonista, é uma das mensagens mais puras do filme.


Leve e divertido, o filme de Gerwig emana energia positiva. Apesar de estar a ser algo sobrevalorizado por público e crítica, não deixa de ser uma estreia alegre e colorida para uma realizadora sempre ligada a filmes com este tipo de ambiente. 

Apesar de Christine ‘Lady Bird’ McPherson (Saoirse Ronan) lutar contra isso, é exactamente igual à extremamente apaixonada, opinativa e teimosa mãe (Laurie Metcalf), que trabalha incansavelmente como enfermeira para sustentar a sua família depois de o pai (Tracy Letts) ter perdido o emprego.


O conflito está constantemente presente, seja com a mãe ou com a melhor amiga - duas das pessoas que, no fundo, ela mais ama. Discussões inflamadas, exageradas (alguns diálogos roçam o presunçoso) - a idade ajuda -, paixões avassaladoras que depressa se esquecem, mentiras inconscientes, vergonha de quem se é, reacções explosivas e imaturas. Lady Bird constrói-se através destas situações e vai crescendo, tal como a nossa protagonista, até se tornar adulto.

O argumento é a cara de Greta Gerwig, é sólido, divertido, sem grandes compromissos, conta uma história delicodoce e agradável, onde a relação mãe-filha toma um lugar especial. Mas o grande foco está mesmo na mudança, na idade que passa e traz com ela responsabilidades que não se desejam (lembram-se de Frances Ha?). No fim de contas, Greta e Christine têm muito em comum, o que começa desde logo na mesma cidade natal.


A direcção artística faz um óptimo trabalho, transpondo a acção para a época em que decorre, o ano 2002: o início da generalização do telemóvel e de outros fenómenos tecnológicos. A banda sonora acompanha esta temporalidade.

Saoirse Ronan continua talentosa e nem o sotaque americano a deixa ficar mal. A actriz é uma força da Natureza e prova que ainda tem muito para mostrar. Ao seu lado, Laurie Metcalf, a mãe implacável, teimosa e obstinada, cria com a protagonista grandes momentos de emoção - em especial após a segunda metade de Lady Bird.


E no meio da ligeireza que o filme transmite, Greta Gerwig consegue convencer-nos de que, também nós, já tivemos qualquer coisa de Lady Bird: já fomos adolescentes revoltados, extravagantes, com sonhos mirabulantes, duvidas e receios. Mas todos crescemos.

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